Gabriel Freitas
Pesquisas confirmam que homens morrem, em média, sete anos mais cedo que as mulheres. Quanto às justificativas para esse fato, normalmente é reproduzido o discurso mais convencional: trabalhos mais perigosos, violência urbana, entre outras justificativas. No entanto, essas não são as únicas respostas. A discussão é mais profunda e com maiores nuances.
É claro que a imortalidade ainda não chegou à humanidade. Mas sim, a discussão perpassa a necessidade do homem conhecer os limites e cuidados necessários para viver mais e melhor. Uma pesquisa promovida pela Revista Portuguesa de Saúde Ocupacional (RPSO), chegou à conclusão que a maioria dos acidentes e mortes ocorridos em ambientes de trabalho são ocasionados por motivos que vão além do tipo da tarefa realizada. Grande parte disso vem pela ousadia de desafiar os perigos óbvios estabelecidos pela atividade exercida. Caso você não seja o super-homem, é claro que o uso de equipamentos de proteção individual são inegociáveis em atividade de risco à segurança.
Em papos de bares, rodas de conversas casuais, inclusive em espaços universitários, há uma naturalização da ausência de homens nas consultas médicas, realização de exames rotineiros e outros cuidados preventivos.
A síndrome de super-herói mais prejudica do que ajuda.
Não existe velhice saudável sem que haja juventude preventiva.
Um levantamento realizado pelo Centro de Referência em Saúde do Homem de São Paulo revelou que a maioria dos homens, influenciados em sua maioria pela esposa e filhos, só procuram ajuda médica quando já há uma gravidade da doença. A busca por um tratamento tão tardio revela um medo de ter a própria masculinidade colocada em risco. A saúde preventiva, pelo contrário, indica a busca por uma vida mais saudável que possibilita ser um homem mais forte. Um homem capaz de ser um filho, esposo e pai melhor.
Não permita que o machismo enraizado na sociedade te impossibilite de participar da criação do seu/sua filho(a) ou vê-lo conquistar seus objetivos de vida. Mulheres, em sua maioria, vivem mais porque procuram se cuidar. A descoberta precoce facilita os passos posteriores.
Fingir que uma doença não existe, não fará com que ela deixe de ser real. Um senhor de 65 anos me revelou não ir atrás de saber se tem alguma enfermidade porque, segundo ele, piora o estado dela. Infelizmente, esse é um pensamento que se perpetua na sociedade. Apesar de ser uma afirmação rotineira, não é verdade. O verdadeiro cuidado com o bem estar é ir atrás. Um profissional da saúde saberá conduzir as decisões necessárias para o tratamento de uma possível doença. Não sinta medo em procurar ajuda. Você, homem, é incapaz de ser bom para os outros sem que seja bom consigo.
Angelita Herrmann, ex-coordenadora nacional de saúde do homem no Ministério da Saúde, ressaltou, durante a sua gestão, em 2015, que deve haver uma conscientização. “É preciso chamar atenção dos homens para o autocuidado. Eles precisam quebrar o mito de serem fortes o tempo todo. Essa cultura do não se olhar é que faz com que os homens morram antes das mulheres”.
Atitudes mais simples e corriqueiras são mais úteis e podem evitar desdobramentos mais graves. “O cuidado deve ser diário. Mudanças de hábitos alimentares, com menos alimentos gordurosos e ultraprocessados são fundamentais. Evitar estes comportamentos de risco é a chave para uma vida mais longa e saudável”, finaliza.
Quando se pauta a questão sexual, os tabus aumentam. Símbolo de virilidade masculina, torna-se também um campo de perpetuação de preconceitos e machismo. Em relatório divulgado pela OMS, chegou-se à conclusão de que mulheres fazem mais testes para diagnosticar infecções sexualmente transmissíveis (IST), além de cumprir os devidos tratamentos.
A prudência não te faz menos homem. Olhar-se no espelho, confessar sintomas não te faz menos viril. Essa prevenção precisa ser algo cultural, acima de tudo. É essencial que seja algo passado para outras gerações. Ter amor ao seu corpo não é errado, mas indispensável. É imprescindível a educação sexual de adolescentes quanto ao uso de preservativos edas consequências de relações sexuais irresponsáveis.
No período entre 2012 a 2022, o câncer no pênis atingiu 21 mil casos, causando amputações e, até mesmo, a morte. Medidas simples como a limpeza com água e sabão preveniria de que acarretasse em situações mais graves. A falta de conhecimento do seu próprio corpo, como a descoberta da necessidade de tratar a fimose - condição em que o prepúcio não pode ser retraído completamente - pode causar o tumor na genitália.
É preciso coragem para ser “macho”. Ser macho o suficiente para abdicar de
preconceitos estabelecidos e aderir decisões que poderão ser
eficazes para a manutenção da vida de forma saudável.