Leo Prado
Geração de imagens e vídeos, dublagens e traduções, criação de textos, designs e músicas: essas são só algumas das infinitas possibilidades ofertadas pelo advento da inteligência artificial, ferramenta que está mudando de vez os paradigmas da tecnologia mundial. Intensamente aprimorada ao longo dos últimos anos, a IA está sendo incrementada nos mais diversos setores de produção, seja no âmbito artístico, corporativo ou até para criar memes nas redes sociais. Fato é, que, com toda essa movimentação, muito se discute questões ligadas à ética e a originalidade dessas produções e as indagações em torno dessas inovações só crescem. Nesse contexto, há quem vilanize essas tecnologias e diga que a humanidade está em risco, mas também é preciso pensar por outro lado.
Desde sempre, o senso comum, provavelmente motivado pelo saudosismo, tem uma certa dificuldade de lidar com a chegada de novas linguagens e ferramentas de produção, principalmente aquelas ligadas a tecnologia, que deixam para trás outros meios mais desatualizados. Exemplo disso é a eterna guerra livro versus filme. Até os dias de hoje, os mais conservadores insistem na vangloriação exacerbada da leitura e da escrita, em detrimento de outras fontes de conhecimento e entretenimento. O mesmo acontece na música, de forma parecida, quando sons e instrumentos orgânicos têm mais prestígio intelectual do que batidas e mixagens feitas no digital. E assim se dão outras comparações, TV versus internet, cinema versus streaming, e por aí vai.
No caso das IAs, a maioria das pessoas ainda costuma torcer o nariz ao se deparar com suas criações. Alguns casos são conhecidos: o comercial da Volkswagen que trouxe de volta Elis Regina; a abertura da série “Invasão Secreta” da Marvel; a capa do álbum “Escândalo Íntimo” da cantora Luísa Sonza, entre outros. Todos esses levantaram discussões do público por terem sido feitos com a utilização de inteligência artificial. O ponto que levanto aqui é o de que, apesar de suas contradições, a IA é mais um desses super avanços da tecnologia que chega, não só como ameaça, mas como fruto de novas possibilidades. Confesso que este próprio texto foi pensado a partir de sugestões e conversas com o ChatGPT, afinal eu não poderia deixar de entrevistar o protagonista dessa história.
Imagem: Reprodução/Marvel Studios; Volkswagen; Sony Music Entertainment
Não posso deixar de citar os seus perigos, é claro. As principais questões são muito claras: deep fakes, desinformação, uso indevido de dados dos usuários etc. A regulamentação dessas tecnologias deve ser e vem sendo discutida, inclusive no âmbito legislativo brasileiro. O grande problema, entretanto, está, muitas vezes, no desconhecimento dessas ferramentas, por ser algo ainda muito novo. Para os olhos já treinados, é fácil reconhecer uma imagem ou um vídeo que foi gerado por IA, e é disso que precisamos. A conscientização e capacitação a respeito do uso e consumo de novas tecnologias é a chave para combater estigmas e preconceitos que as banalizam. É preciso entender a importância da alfabetização digital nesses casos e como esses artefatos podem se tornar cada vez mais essenciais no convívio humano daqui para frente.
Por outro lado, as perspectivas mais pessimistas dizem que a grande ameaça da IA é a capacidade de substituir o trabalho humano, o que é possível em certos casos. Assim como na revolução industrial com as máquinas ou até mesmo na substituição de funcionários por caixas de autoatendimento em lojas, a inteligência artificial é, de fato, uma ferramenta que possibilita a simplificação e o barateamento de processos técnicos ainda realizados por pessoas. Por mais prejudicial que seja para a classe trabalhadora, isso sempre vai ser um grande atrativo no mundo capitalista em que vivemos, o que deixa ainda mais aceso o alerta para a importância de nós, enquanto sociedade, nos adaptarmos a essas invenções e encontrarmos meios e alternativas de lidar com seus impactos.
Em uma realidade em que o avanço tecnológico é constante, não se trata de lamentar ou resistir a essas mudanças, mas aprender a conviver com elas.
Ao olhar para o futuro, fica nítido que outras super tecnologias surgirão. A IA, principalmente, ainda pode alcançar paradigmas inimagináveis. Essas inovações, assim como podem trazer problemas, também são capazes de revolucionar e aprimorar diversas esferas da vida humana. Assim, nos resta esperar para ver o que os próximos anos nos aguardam. Mas, para quem tem medo e imagina que essas inteligências irão se revoltar contra a humanidade, vamos pensar diferente: ao invés de deixarmos elas nos dominarem, vamos nós aprender a dominá-las.