Gabriel Freitas
920 mil pessoas no Brasil vivem com HIV, de acordo com dados do Ministério da Saúde divulgados em 2020. Não há debate quanto à materialidade do perigo de contaminação, mas os processos educacionais ainda parecem ter uma longa caminhada pela frente. São muitos avanços, mas ainda existem desafios para serem enfrentados: educadores, publicitários e médicos especialistas ainda vivem o dilema de como trazer o público brasileiro – especialmente o mais jovem – para o lado da conscientização.
É bem possível que a atual geração de jovens não tenha o mesmo temor pelas Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) que outras passadas, já que o número de pessoas que foram infectadas pelo HIV aumentou em 4,5% entre 2023 e junho de 2024, em comparação com o ano de 2022. O que podemos observar é que, nesse mesmo período, o Brasil teve a menor mortalidade por Aids dos últimos dez anos, de acordo com dados do boletim epidemiológico publicado pelo Ministério da Saúde. De certa forma, é compreensível a diminuição do medo.
Os ídolos contemporâneos já não partem deste mundo
por motivos derivados de tais circunstâncias.
Os medos são diferentes.
A mortalidade em decorrência da Aids teve uma queda de 32,9% nos últimos dez anos. Segundo o relatório, em 2013 a taxa era de 5,7 mortes por 100 mil habitantes, enquanto em 2023 passou para 3,9 óbitos. No total, em 2023 foram registradas 10.338 mortes causadas pela Aids no Brasil. Por mais que o vírus não escolha quem infectar, existem, de fato, classes que são mais alcançadas, diante de suas vulnerabilidades, seja por preconceitos ou falta de informação. Dentre os infectados:
70,7% são pessoas do sexo masculino;
63,2% são pessoas pretas e pardas e, por fim;
53,6% são homens que fazem sexo com homens.
SE AUMENTA, POR QUE DIMINUI?
Por um lado, menos pessoas morrem. Por outro, há mais humanos infectados. Logo, surge a dúvida: qual é a razão destes números, quando tais dados parecem um tanto quanto paradoxais? Na visão do próprio Ministério da Saúde, a situação parece evidente: os serviços de saúde do Brasil já possuem maior capacidade de diagnóstico.
Além disso, também houve maior ampliação da distribuição da Profilaxia Pré-Exposição (PrEP), comprimidos gratuitamente distribuídos pelo SUS para prevenir a infecção pelo vírus. Todos que se cadastram e fazem uso regular da PrEP precisam fazer o teste de HIV regularmente. Se mais pessoas precisam se testar, há mais chances de haver detecção do vírus.
Em entrevista à CNN Brasil, Draurio Barreira, diretor do Departamento de HIV, Aids, Tuberculose, Hepatites Virais e Infecções Sexualmente Transmissíveis, deu continuidade ao argumento da pasta, apontando para a PrEP. “Para entrar em PrEP, as pessoas precisam se testar. Somente com essa iniciativa, aumentamos exponencialmente nossa capacidade de diagnóstico e, inclusive, alcançamos mais uma meta de eliminação da Aids como problema de saúde pública até 2030”, afirmou o diretor.
A JUVENTUDE ESTÁ RELAXADA
Em agosto deste ano, uma notícia passou a circular no noticiário do Brasil e, principalmente, da Bahia. Algumas publicações divulgavam um suposto aumento de cerca de 11 mil casos da infecção entre jovens de 14 a 19 anos no estado entre janeiro e agosto de 2025. O que a Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab) explica é que, na realidade, o número aproximado de 11 mil infectados é referente ao conjunto de todas as idades – não apenas adolescentes –, e ainda refere-se aos últimos 2 anos e 7 meses.
Na Bahia, no ano de 2025, até o início de agosto, foram notificados 93 casos de HIV na faixa etária de 14 a 19 anos. Em 2024, nesta mesma faixa etária, foram 184 casos; 2023 foram 158 registros; e em 2022 chegou a 137.
É quase impossível falar sobre ISTs e não mencionar a juventude. A necessidade de ampliar o debate para as gerações atuais e vindouras aumenta quando observamos o comportamento de adolescentes europeus, por exemplo. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), eles têm mantido, cada vez mais, relações sem preservativo.
O percentual de adolescentes que usaram camisinha durante a última relação sexual caiu de 70% para 61% entre os meninos, e de 63% para 57% entre as meninas, de 2014 a 2022. Não pense que essa realidade se resume apenas ao velho continente. No território brasileiro, o problema não tem sido diferente. Segundo dados de 2019, divulgados pelo levantamento “peNSE”, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apenas 59% dos jovens entrevistados usavam camisinha. Surpreendentemente, em 2009 o percentual chegou a ser de 72%.
A realidade existe e necessita de cuidado, mas não de desespero. O jovem transa. Ele só precisa ser educado sobre como sentir prazer sem se colocar em risco.
Edição: Leo Prado e Rodrigo Junior
Editora-chefe responsável: Bia Nascimento