Hanna Andraus
O que a moda consegue esconder?
A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) é uma ferramenta do Poder Legislativo, utilizada para fiscalizar irregularidades ou questões de má gestão pública. Essa comissão não é punitiva, mas tem como objetivo encaminhar o caso para as autoridades corretas. No dia 13 de maio de 2025, a influenciadora Virginia Fonseca foi chamada para depor na CPI das Bets. Ela apareceu completamente diferente. Camisa estampada com o rosto da filha, óculos fino, pouca maquiagem, um copo rosa Stanley e vestida em ingenuidade. Para quem assistia, era possível enxergar uma figura completamente infantilizada.
Essa comissão tem o objetivo de investigar, no prazo de cento e trinta dias, a crescente influência dos jogos virtuais de apostas online no orçamento das famílias brasileiras, além da possível associação com organizações criminosas envolvidas em práticas de lavagem de dinheiro, bem como o uso de influenciadores digitais na promoção e divulgação dessas atividades.
Nascida em Connecticut, Estados Unidos, Virgínia começou sua carreira no digital em 2016 com um canal no YouTube, mas ganhou popularidade quando começou a namorar Rezende, youtuber de games e lifestyle. Para além de produzir conteúdo na internet, Virginia também é empresária, gerenciando a We Pink, Talismã Digital e a Maria's Baby. Poderosa, confiante e cheia de si; essa é a imagem que ela passa nas redes sociais.
Foto: Reprodução/Redes Sociais
No mesmo dia, Kim Kardashian foi chamada para depor no caso do roubo das suas jóias. A socialite norte-americana, na semana de moda de Paris de 2016 teve pertences avaliados em aproximadamente 10 milhões de dólares roubados. Perante ao júri, Kim utilizou tons sóbrios, roupas sob medida que acentuam a silhueta, e uma postura nada ingênua. Para quem assistia, via uma mulher determinada a encarar a justiça.
“Virginia pecou pelo excesso de signos, já a Kim Kardashian foi inteligentíssima”, afirmou o professor da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e doutor em semiótica, Maurício Tavares. Utilizando jóias que remetem ao incidente, Kim se apresentou ao júri com claras intenções e sede por justiça. Por outro lado, além de quebrar o rito cerimonial de uma CPI, Virgínia se tornou alvo de críticas de toda a internet e não ajudou na investigação, pelo contrário, tornou o espaço um show de jargões e, para muito, irresponsabilidade. “Ela [Virgínia] quebrou a solenidade e a formalidade do evento, ao contrário do que a Kim fez”, disse Maurício.
Foto: Reprodução/CNN Brasil
Sem juízo de valor; não há certo ou errado na moda. Cada roupa tem o poder de argumentar por si só. O visível é apenas uma pequena parte do amplo rastro invisível que tudo contém. Os signos que cada figura resolveu utilizar falaram mais alto antes mesmo de entrar em qualquer sala de argumentação.
“A roupa sempre significa algo, e na semiótica, utilizar signos demais pode causar um efeito rebote, como no caso da Virgínia”, conclui o professor Maurício. No fim, quem sabe vestir também sabe discursar. Kim usou a moda como argumento de defesa. Virgínia, como desculpa. E quando o look fala mais alto que o depoimento, o veredito vem antes mesmo da sentença.
Edição: Bernardo Maia e Rodrigo Junior
Editor-executivo responsável: Leo Prado