Thyffanny Ellen
Como a idealização de padrões comportamentais afetam potenciais relações
Diante de um passado marcado por namoros de janela e casamentos mediados pela família, os relacionamentos amorosos evoluíram para um cenário que seria inimaginável no século XX. As práticas relacionadas ao amor e à intimidade se adaptaram às novas realidades sociais, e desde então, dar início ao primeiro contato, convidar para sair, buscar em casa e pagar a conta são comportamentos que aparentemente ficaram para os homens do passado. Nos últimos anos, os hábitos mudaram com a digitalização das interações. Isso transformou a dinâmica da construção delas, que se tornaram resumidas a cliques, curtidas e emojis.
A forma como muitos homens encaram o romance nos tempos atuais traz à tona uma das grandes mudanças no comportamento masculino, evidenciada por trends - conteúdos que atingem um pico de popularidade nas redes sociais por certo tempo - como a “POV: homens em 2024”. Nessas postagens, vários vídeos expõem interações em que os homens supostamente são inconvenientes quando tomam iniciativa de um jeito inusitado. Muitas vezes, o comportamento é considerado fora do que é considerado masculino, como se essa fosse a melhor maneira de dar início às interações. Do “essa cor combina com você” ao “te elogiar foge muito do meu personagem”, as tentativas de iniciar uma conversa que são expostas nas postagens da trend dividem opiniões, o que traz o debate de como essas aproximações deveriam ocorrer.
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Reprodução/ Redes Sociais
Muitos deles, ao tentarem usar da gentileza ou humor, acabam sendo vistos como “menos homens” por mulheres que ainda valorizam o modelo tradicional de conquista: o mais direto e assertivo. Ao mesmo tempo, há quem critique a falta de esforço em muitas dessas aproximações. Para Vitória, de 20 anos, às vezes nem o empenho mínimo é realizado: “Hoje em dia os caras dão um like numa foto e acham que estão fazendo um grande mousse, ou seja, fazendo muita coisa. O que eu fiz foi ajustar meu flerte, entregando o mesmo que eu recebo”.
As redes sociais têm um papel fundamental na formação desses ideais com a disseminação de vídeos que supõem um padrão de atitudes tomadas de acordo com as intenções. Elas não só influenciam comportamentos, como também estabelecem padrões e expectativas que, em muitos casos, são irreais. No TikTok, por exemplo, publicações com temas como “Sinais que provam que ele está interessado” ou “Coisas que um homem deve fazer no primeiro encontro” acumulam milhões de visualizações e reforçam ideais que nem sempre se traduzem em experiências condizentes a realidade de todos. Vitória ainda vê além das influências exercidas pelas publicações: “Tem algumas mulheres que exigem muito além do que eles podem oferecer, mas não acho que a culpa seja delas. Infelizmente, os homens que não foram ensinados a tratar as mulheres como elas merecem”.
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Essa dualidade de expectativas cria um cenário em que tanto homens quanto mulheres se afastam do que seria genuíno. De um lado, eles têm que seguir padrões de virilidade que não são autênticos, enquanto mulheres esperam que as interações sejam impecáveis e irreais desde o início. De fato, será que o problema está nos homens de 2024, que parecem não saber como lidar com os relacionamentos e as expectativas atuais, ou nas mulheres, que mantêm um nível de exigência irrealista e muitas vezes rígido demais baseado nas experiências de outras pessoas?
Edição: Gabriel Freitas e Leo Prado
Editor-chefe responsável: Rodrigo Junior