Rodrigo Junior
A maternidade pode não ter o mesmo encanto para todas as mães
Acordar no meio da madrugada, amamentar, colocar para arrotar, trocar a fralda. Repetir o ciclo nas horas seguintes. Acordar pela manhã disposta à fazer o dobro do trabalho, muitas vezes sozinha. Essa era a realidade de Juliana Pratt, de 28 anos, durante os primeiros meses de idade do filho Christian. Sem contar com as dores e incômodos da gestação, para muitas, esse é um período considerado difícil, em especial para as mães de primeira viagem.
Juliana Pratt e o filho, Christian
Foto: Arquivo Pessoal
Por ser a primeira gestação, Juliana ainda não sabia o que sentiria ao carregar o filho pela primeira vez. Naquele momento, parecia que o mito do amor materno à primeira vista havia perdido o sentido. “Eu realmente achava que assim que ele nascesse teria esse sentimento fervendo dentro de mim, mas não foi assim. Foi crescendo a cada vez que eu o amamentava, que eu colocava pra dormir, que íamos criando uma conexão”.
PRESSÃO QUE TRANSCENDE O TEMPO
Na idade média, quando o ocidente era regido pela política monárquica, havia uma expectativa muito grande sobre o gênero do bebê, por conta da linha de sucessão do trono e preservação da linhagem. Essa pressão gerava uma quebra de expectativas que, muitas vezes, refletia no sentimento da mãe pelo bebê. A cobrança de que o amor materno é instantâneo foi perpetuada pelos anos e rejeitada entre as mães. Além disso, um casal sem filhos perdia poder e prestígio, tornando uma preocupação desde o prole à nobreza.
Em entrevista ao programa “Sábia Ignorância”, apresentado por Gabriela Prioli, a atriz Isis Valverde explicou sua experiência com o nascimento do filho Rael. Para ela, foi difícil adquirir amor materno de primeira, principalmente por alguém que havia acabado de conhecer. O sentimento verdadeiro só surgiu aos 8 meses de vida.
Isis Valverde e o filho Rael, com 5 anos hoje
Foto: Karine Basilio
Eixos da psicologia discutem o tema entre si, a partir de teóricos da área. A psicanálise defende a ideia de que as mulheres adquirem um instinto materno durante a gestação, que é intrínseco e inerente a todas as mulheres. Os profissionais que estudam a psicologia comportamental avaliam que o sentimento é algo construído com o tempo. Esse é o caso de Edislan Vieira, psicólogo com atuação voltada ao comportamento humano.
Para o especialista, a maternidade não pode ser considerada igual para todas as pessoas. Fatores sociais como ausência do parceiro, traumas relacionados aos pais e a cultura do lugar onde vive influenciam na forma como o amor é desenvolvido no puerpério, período que sucede o nascimento.
“Pode, sim, não haver amor. Por isso que eu digo que não é instantâneo. Mas pode não haver e ser construído. Não é como se todas as mulheres já nascessem pré-dispostas, isso é uma concepção inata”, explica.
Também mãe de primeira viagem, Karen Stolze explicou que a chegada do filho Benoah, aos seus 22 anos, veio junto com o amor incomensurável que todos falavam. “Eu não imaginava que o sentimento me invadiria tão rápido, achei que seria algo gradativo, assim como vinha acontecendo durante a gestação”. Para ela, carregar o primeiro filho no ventre a deixava curiosa sobre o sentimento que ouvia falar.
Karen Stolze e o filho, Benoah
Foto: Arquivo Pessoal
As mães de Christian, Benoah, Rael e dos 2,54 milhões de crianças que nasceram no Brasil em 2023, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), recriam e reestabelecem o que é o amor materno dentro das próprias casas, em suas próprias experiências e, muitas vezes, contrariando as expectativas de uma maternidade perfeita e com sentimentos instantâneos.
Edição: Bernardo Maia e Bia Nascimento
Editor-executivo responsável: Leo Prado