Gabriel Freitas
A construção de um relacionamento romântico é mergulhado em um mar de diversos sentimentos. Há, dentro dessas parcerias, o carinho, amor, desejo sexual, companheirismo e muitos outros, que também se tornam um empecilho para decidir terminar. Como toda relação humana, as desavenças e os desencontros de expectativas acontecem. Apesar de difícil, muitos relacionamentos compreendem a necessidade de dar um ponto final por não enxergar mais futuro para aquela vida em conjunto.
No entanto, tais sentimentos já citados, não são tão domesticados. Apesar dos ciclos se encerrarem, fica a história. Em uma relação que se encerra apenas por desgaste, falta de atração ou por visualizar caminhos distintos para o futuro, pode não parecer existir um trauma tão aparente.
Em um encontro de almas que, por muito tempo, foi também o lugar de conforto, surge a necessidade de manter por perto aquele ou aquela que tanto fez bem. Dentro dessa realidade, muitos ex-casais decidem manter uma relação, mesmo que de amizade. Cada um à sua maneira, o sentimento se ressignifica e passa a ocupar um outro lugar, não mais de complemento romântico, mas de uma companhia de amizade, em que podem ser companheiros para além da vontade de ir para cama.
Quando a decisão passa a ser alimentar uma amizade, um estudo publicado na Personal Relationships ressalta o perigo de manter o ex por perto quando ainda não há um tratamento daquilo que foi vivido. Na pesquisa, a revista destaca que tentar eliminar uma atração ainda viva ou apenas tentar ignorá-lo pode trazer prejuízos para o processo de cura. Para que uma amizade seja saudável, os dois envolvidos precisam ter a capacidade necessária para serem amigos.
Já outro estudo, agora do Journal of Social and Personal, visualiza uma tendência de ex-casais que tiveram uma separação pacífica conseguirem continuar a vida apenas como amigos. Para que isso aconteça, é necessário que haja uma compreensão por ambos os lados.
EX SE TORNANDO AMIGO
O Entrepontos entrevistou duas pessoas, que preferiram não se identificar, mas explicaram o processo de separação e a manutenção do amor, dentro dessa experiência de ter vivido um relacionamento e, mesmo após o término, ter preferido se manter por perto.
O primeiro é um estudante da Universidade Federal da Bahia (UFBA), de 22 anos, que passou três anos e meio ao lado de sua ex-companheira e confessou que grupos em comum ocasionaram no início do relacionamento. “Somos da mesma cidade com um grupo parecido de amigos, então acabamos convivendo e gerando uma amizade legal que se transformou em amor”.
Contudo, as coisas mudaram e o “desgaste no relacionamento”, acabou sendo preponderante para que se chegasse ao fim. Dentro dessa conjuntura, houve uma ‘maturidade’ para visualizar coisas boas mesmo com a separação. “Nós acabamos por desgaste no relacionamento, tivemos muitas brigas e erros, mas queremos muito o bem e a felicidade um do outro e isso que manteve a amizade de certo modo”, explicou, dizendo ainda que considera o estágio como de “amigos próximos”.
Já o outro entrevistado é um analista de mercado, de 25 anos, que explicou como administra esse sentimento. Diferente do primeiro caso, ele revelou não manter uma relação tão intimista, mas conseguiu cultivar uma “amizade respeitosa e afetiva”, de um relacionamento que findou por falta de tempo dentro da rotina cheia de tarefas. Nesse caso, a relação chegou com tudo, se amaram por meses intensos, mas se esvaiu.
EM OUTRO RELACIONAMENTO, COMO FAZ?
O estudante da UFBA explicou que não sabe como seria se relacionar com uma outra pessoa e como administraria, ressaltando que só o tempo poderia dar essa resposta. Quando pensa em ver a ex-amada com outro, pontua que é importante “deixar o egoísmo, o ego de lado e torcer pra pessoa ser feliz”.
Dentre as fontes, teve quem já está em um novo relacionamento e confessou um susto da namorada em saber que nutria um sentimento de amizade pela ex. “Estou em outro relacionamento e não atrapalhou, inclusive se conhecem. Óbvio que exige um tempo para se ‘digerir’ como se deu a amizade, mas nada que atrapalhe”, contou.
A análise do Social Psychological and Personality Science, pesquisadores que analisam comportamentos sociais, ressalta que a manutenção do/a ex por perto pode ser prejudicial para um novo relacionamento. Lidar com o passado e o presente ao mesmo tempo pode se tornar confuso e dar margem para tensões e inseguranças no novo namoro.
A responsabilidade consigo e com o outro pode definir qual decisão tomar e qual caminho partir, para que seja saudável a quem esteja envolvido dentro dessas relações.
Edição: Bia Nascimento e Thyffanny Ellen
Editor-chefe responsável: Rodrigo Junior