Rodrigo Junior
Há milênios, antes mesmo do nascimento de Hipócrates, o pai da medicina, as pessoas já se curavam. Plantas, chás e rituais faziam parte do dia a dia dos curandeiros dos Tempos Antigos. Anos depois, com o surgimento da medicina contemporânea, as mulheres que levaram adiante essas técnicas foram chamadas de bruxas, para então serem queimadas ou afogadas em praças públicas e condenadas por crime. No ano de 1692 em Salem, Massachusetts, nos Estados Unidos, centenas de mulheres foram autuadas pela Igreja Católica pela prática de bruxaria. Atualmente, pouco mais de 330 anos depois, a então "medicina tradicional” não é a única opção. Será que o tradicional é relativo? Ainda que a maior parte do mundo siga dogmas de determinada ciência, para algum grupo a prática não é tradicional.
Em certas esferas sociais, o tradicional está nas matas. As plantas medicinais, chás, banhos e técnicas compõem o que hoje é chamado de naturopatia. Também conhecida como fitoterapia, é aquela que se baseia no conhecimento e crença popular sobre métodos e remédios curativos de fontes naturais, o que faz que não necessariamente requeiram um estudo baseado em testagens e evidências laboratoriais.
No século XXI, alguns povos originários mantiveram o costume de recorrer ao que brota do solo para curar enfermidades. O povo Pataxó, da Aldeia Indigena Pataxó Coroa Vermelha, no Território Indigena Coroa Vermelha, no extremo Sul da Bahia, tem acesso à medicina científica através de unidades de saúde da localidade. Mas, de acordo com Aiyra Pataxó, uma moradora de 22 anos, os moradores de lá só recorrem em último caso. Segundo ela, chás, garrafadas, banhos de ervas e incensos curam não só o corpo, como a mente e o espírito. “Acredito muito na força das ervas e no conhecimento ancestral, não tem porquê ir atrás de outros recursos se tenho a cura nas minhas mãos”, explica a estudante de Gestão Pública e Social da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB). Além dos pajés, as parteiras, rezadeiros, benzedeiros e curandeiros atuam como figuras que proporcionam a resolução de diversos problemas de saúde.
Aiyra Pataxó
Foto: Acervo Pessoal
Em outras realidades e particularidades, o tradicional ainda é diferente. Na Ayurveda, como chamam a medicina tradicional indiana, técnicas de massagem, meditação e dietas específicas também estão associadas à fitoterapia. No mesmo continente, a China tem formas diferentes de cura. O Tai Chi traz o alinhamento do corpo e mente com meditações, a acupuntura com a inserção de agulhas em lugares específicos para o relaxamento e outros ganhos na saúde, e a moxabustão, aplicação ligada ao tratamento com agulhas e a termoterapia. A homeopatia, desenvolvida na Alemanha e espalhada por todo o continente, utiliza substâncias naturais que geram certos sintomas em pessoas saudáveis para a cura das doenças com manifestações parecidas.
Ayurveda, medicina tradicional indiana
Foto: Freepik
Com a filosofia de “O semelhante cura o semelhante”, a ciência da homeopatia atua como uma medicina à parte. Nela, utilizam-se substâncias em doses extremamente diluídas para o manejo em pacientes com sintomas variados. É daí que surge o termo “doses homeopáticas”. Como uma ramificação, a Homeopatia Unicista utiliza de um único remédio homeopático para o tratamento do corpo, mente e energia. A dra. Angela Sampaio, especialista com 27 anos de atuação na área, explica que a aplicação de um diagnóstico requer um conhecimento mais amplo do paciente. “Tudo vai depender da capacidade de resposta da pessoa. O médico procura encontrar energia medicamentosa, que equilibra a energia vital da pessoa que, ao desequilibrar, apresentou sintomas físicos e mentais”.
Com o tempo, os avanços tecnológicos e a globalização contribuíram com a mistura das técnicas e saberes de cura. Tem-se usado, por exemplo, a técnica canadense quiropraxia, que é o ajuste da coluna vertebral para tratar de problemas posturais, atrelada à fisioterapia e à ortopedia, a mistura de ervas medicinais com a farmacologia. Nos dias atuais, a fitoterapia ainda é uma prioridade para muitas pessoas. Kauan Pereira, 20, recebeu o conhecimento geracional familiar para o tratamento de doenças com produtos naturais. Hoje, além do apreço pelas técnicas, o jovem tem uma opinião contrária a outros tipos de remédios. “Eu sou totalmente contra a indústria farmacêutica. Eles nos deixam doentes para poderem oferecer a cura. Então, dessa indústria, eu e minha família consumimos o mínimo”.
Dessa mistura surge a medicina integrativa. Como o nome já supõe, é um ramo que agrupa mais de um tipo de forma de cura, de forma personalizada à necessidade do paciente. Com abordagem holísticas, ou seja, que trata o paciente de forma integral e não só pela doença, esse tipo de medicina não trata só os sintomas, mas a pessoa como um todo. É muito comum ser usada para o tratamento de doenças crônicas como fibromialgia, doenças mentais e o apoio em pacientes com quadros de câncer. No fim, nos deparamos com uma gama de possibilidades com um propósito em comum: a cura.
Edição: Bernardo Maia e Leo Prado
Editora-chefe responsável: Bia Nascimento