Rodrigo Junior
A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que promovia o fim da escala que mantém os trabalhadores no exercício de suas funções durante seis dias consecutivos, folgando apenas uma vez na semana, atingiu as 171 assinaturas mínimas na Câmara dos Deputados para ser protocolada no Congresso Nacional. Além de permitir escalas com cinco dias de trabalho, a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) atual oferece ao empregador flexibilidade para organizar a jornada conforme as necessidades da empresa. Isso inclui a possibilidade de definir o início e o fim da semana de trabalho, assim como a distribuição das horas trabalhadas. A carga horária pode ser dividida, por exemplo, em 7 horas e 20 minutos durante seis dias, ou em 6 horas por cinco dias e 4 horas no sexto dia.
20 empresas brasileiras participaram, de janeiro a junho deste ano, de um experimento com a implementação da escala de quatro dias de trabalho, realizado pela 4 Day Week Brazil, Boston College e Fundação Getúlio Vargas. Os resultados sobre a satisfação e saúde mental dos trabalhadores envolvidos no teste foram explicitamente positivos.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) e a Organização Internacional de Trabalho atestam a morte de 75 mil pessoas por ano em decorrência de doenças ocasionadas por escalas de trabalho excessivas. Segundo a Analista de Recursos Humanos Taiane Souza, os malefícios para quem trabalha dessa forma são incontáveis e influenciam nos resultados finais e no próprio trabalhador. “A falta de tempo livre pode impactar a vida pessoal e profissional, afetando a motivação e a qualidade do trabalho”, assegura a Pós-doutoranda MBA em Liderança e Gestão de Equipes de alta performance.
Em sua maioria, as empresas que aderem à escala 6×1 estão relacionadas às áreas do comércio, lazer e hotelaria. Entretanto, nem todos os estabelecimentos seguem esse padrão, como a cafeteria Griô Café Cultural, que disponibiliza aos seus funcionários uma jornada de quarta à domingo. O café adentrou no mercado de Brasília considerando a necessidade das pessoas terem uma vida para além do trabalho. “Entendemos que o trabalho é uma parte do dia da pessoa”, afirma Arthur Ribeiro, dono do estabelecimento e profissional de Recursos Humanos anteriormente. Para ele, trabalhar com a área foi essencial para afirmar sua opinião sobre o assunto e aplicar em seu estabelecimento no futuro: “Particularmente, sempre achei injusta a carga de trabalho que nossa sociedade normalizou. Trabalhamos muito, descansamos pouco e nos contentamos com migalhas de lazer ou outras formas de diversão”
Griô Café, em Brasília
Arquivo pessoal
Os dois profissionais concordam no que diz respeito à redução para escalas com menos dias de trabalho, tanto a 5×2 quanto a 4×3. Acreditam que esse seja o modelo ideal pois possibilita afazeres além dos laborais. Para Taiane, por exemplo, quatro dias de trabalho resultam no aumento da produtividade, melhoria da saúde mental, aumento do engajamento da equipe e na redução de custos operacionais, como energia. Mas e os empresários, como ficariam nisso? Para Arthur, não seria prejudicial a redução da jornada: “O lucro é importante, mas existem outras prioridades nas nossas vidas. Entendemos que se nós não estivermos bem, nossa qualidade de trabalho cai e, consequentemente, nosso lucro também”.
Edição: Leo Prado e Thyffanny Ellen
Editora-chefe responsável: Bia Nascimento