Gabriel Freitas
Em 13 de maio de 2013, após a renúncia de Bento XVI, a fumaça branca na chaminé da Capela Sistina anunciou Jorge Mario Bergoglio como pontífice máximo da Santa Sé. O papa de muitos ineditismos, demonstrou-se um sacerdote reformista, na luta por mais protagonismo das mulheres, respeito à comunidade LGBTQIA+ e zelo pelos imigrantes.
Apaixonado pelo Brasil, veio ao país em julho, na sua primeira viagem internacional como maior líder da Igreja Católica. Para Francisco, não há mais motivo para rivalidade, haja visto que a proporcionalidade já estava definida. “O papa é argentino e Deus é brasileiro”, diz em uma demonstração do seu bom-humor característico. Aqui, as coisas funcionaram diferente do habitual: ele rejeitou o papamóvel blindado e usou o mínimo de escolta armada. Em solo brasileiro, visitou a casa de uma família em Varginha, favela do complexo de Manguinhos, no Rio de Janeiro. Sob a bênção de Francisco, teve, pela primeira vez, a canonização de um brasileiro, a Santa Dulce dos Pobres.
O primeiro sul-americano a chegar ao papado carregou consigo, além do amor por Jesus, a preocupação com os mais pobres. “Como eu gostaria de uma igreja pobre, e para os mais pobres”, disse Jorge Bergoglio, que escolheu “Francisco” como seu nome para o cargo de maior autoridade da Igreja Católica, em homenagem a São Francisco de Assis, fundador da Ordem Franciscana.
Consagrou-se na história, não apenas como mais um sumo pontífice, mas como um grande líder internacional. Em sua última aparição, no domingo de páscoa, seu discurso foi recheado de afirmações contundentes, como foi costumeiro durante seu período à frente da Igreja. Em sua fala, definiu a guerra que acontece em Gaza como “crise dramática e indigna”. A preocupação com as pessoas vulnerabilizadas na Palestina era tanta que, segundo a Federação Árabe Palestina do Brasil (Fepal), o papa telefonou 563 vezes para a paróquia em Gaza, desde quando se deu início a guerra no dia 7 de outubro de 2023 até o último sábado (19) do papa vivo.
Em 2019, papa Francisco beija pés de líderes do Sudão enquanto pede paz
Foto: Reprodução / Vatican Media
O Santo Padre defendia a pobreza e a austeridade como modo de vida. Rejeitou as residências luxuosas do Palácio Apostólico para se abrigar em uma hospedaria mais modesta, na Casa Santa Maria, demonstrando sua simplicidade. “O papa Francisco é o grande sinal do amor misericordioso de Deus”, assim o Padre Júlio Lancellotti, conhecido pelo seu ativismo no cuidado de pessoas em situação de vulnerabilidade social, define sua autoridade espiritual.
A simplicidade do argentino foi evidente até mesmo após a morte. Ainda em vida, Francisco mudou alguns ritos do velório do papa, fazendo com que passasse a mensagem de que “o funeral do pontífice é o de um pastor e discípulo de Cristo, e não o de um poderoso deste mundo”.
Em 2023, no Parque Tejo, em Portugal, o papa fez um discurso que reforçou a sua visão de como ver a relação da santidade com os fieis:
“O único momento em que é lícito olhar uma pessoa de cima para baixo:
quando queremos ajudá-la a levantar-se”.
O PAPA ALÉM DO PAPADO
Jorge Bergoglio nunca quis ser papa Francisco. Assim Graciela Meraglivio, costureira das batinas do santo padre, afirmou à CNN ao revelar bastidores da sua relação com o pontífice. Amigos desde os anos 90, Meraglivio conta ter dito a Francisco que ele seria eleito papa, mesmo ele negando veementemente: eu não quero ser papa, eu não quero. Por que você quer que eu seja papa?”. Quando foi escolhido, ela revelou que ele ligou chamando-a de bruxa, com bom humor.
Outra curiosidade marcante era seu amor pelo futebol. Apaixonado pelo San Lorenzo, clube argentino campeão da Copa Libertadores em 2014, era sócio-torcedor. O papa abriu mão do bairrismo quando foi perguntado se preferia Maradona ou Messi, optando por uma terceira opção: Edson Arantes do Nascimento, o Pelé.
Papa Francisco recebeu a camisa da seleção brasileira com autógrafo do Pelé
Foto: Reprodução / Redes Sociais
As brincadeiras do líder da igreja católica eram tão frequentes que, de acordo com o Dom Leonardo Steiner, arcebispo de Manaus, o papa perguntava até sobre a cachacinha. “Ele sempre tinha uma pequena brincadeira. Sempre foi animado”, contou o brasileiro que estará pela primeira vez no conclave à Folha de S. Paulo.
Edição: Rodrigo Junior e Thyffanny Ellen
Editora-chefe responsável: Bia Nascimento