Venicius Rodrigues
Nos últimos anos, a presença de estudantes indígenas nas universidades tem crescido, impulsionada por políticas de inclusão, como cotas étnico-raciais e programas de apoio acadêmico. Mas esses alunos ainda enfrentam grandes desafios para garantir sua permanência no ambiente universitário, como a falta de suporte financeiro adequado e as barreiras culturais. As dificuldades para concluir os cursos, bem como as iniciativas desenvolvidas para que esses estudantes se mantenham na universidade, são temas centrais dessa realidade.
Com a criação da Lei de Cotas, sancionada em 29 de agosto de 2012 pela então presidente Dilma Rousseff, houve um aumento no número de indígenas ingressando nas universidades brasileiras. No entanto, apesar desse avanço, o número ainda está longe de ser considerado significativo, já que, segundo dados do Censo Demográfico de 2022, esses estudantes representam apenas 0,5% do total de discentes. Vários fatores, como a desigualdade de acesso à educação, as barreiras linguísticas, culturais e a falta de políticas públicas que garantam a permanência desses alunos nas universidades, contribuem para que a presença deles no ensino superior continue pequena. Esse cenário evidencia a necessidade de medidas inclusivas mais abrangentes, que não apenas garantam o ingresso, mas também proporcionem suporte durante a formação. “O principal desafio para se manter na universidade é perceber que esse espaço não foi construído para a gente; ainda é um lugar muito excludente, que não entende e nem está preparado para lidar com a diversidade cultural que existe entre os povos indígenas”, relata Ronaldo Dantas, indígena da Aldeia Massacará, do povo Kaimbé, na região norte da Bahia.
Estudantes indígenas que entram na universidade, muitas vezes, enfrentam desafios emocionais e psicológicos únicos, que se dão tanto pela mudança geográfica quanto pelo distanciamento cultural. Muitos desses discentes deixam suas comunidades e, com isso, perdem o contato diário com suas famílias e tradições. As universidades não estão preparadas para oferecer suporte psicológico que leve em conta as vivências e a individualidade desses alunos. Além de lidar com tudo isso, eles ainda precisam dar conta da rotina universitária.
Ronaldo chegou em Salvador há pouco mais de um ano e sente que a Universidade Federal da Bahia (UFBA) não está preparada para lidar com a pluralidade cultural e o contraste que existe entre a coletividade de sua cultura e a individualidade predominante da universidade. “A universidade é inclusiva até um certo ponto, mas não está preparada para nos receber e nos atender. O próprio corpo docente não entende quando um estudante indígena precisa voltar para sua aldeia durante o semestre para cumprir com suas obrigações, participar de seus rituais; isso também faz parte da nossa formação enquanto pessoa, é a nossa cultura, mas a academia acaba desconsiderando”. Isso pode afetar o bem-estar emocional e comprometer a adaptação e o desempenho acadêmico dos alunos indígenas. É importante destacar que, embora as políticas de inclusão, como a Lei de Cotas, tenham permitido o aumento de ingresso de estudantes indígenas nas universidades, a verdadeira inclusão só será alcançada quando a permanência for garantida. Para isso, é necessário que as instituições de ensino superior estejam preparadas para acolher esses alunos de forma integral, reconhecendo e respeitando suas especificidades culturais, oferecendo suporte acadêmico, emocional e psicológico adequado. A construção de um ambiente universitário que seja, de fato, plural depende da superação das barreiras que ainda limitam o sucesso desses estudantes, abrindo espaço para uma troca rica de saberes e experiências, fundamentais para o fortalecimento de uma sociedade mais inclusiva e diversa.
Ronaldo em Massacará
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Edição: Thyffanny Ellen
Editor-chefe responsável: Rodrigo Junior